Neste texto abordo processos nos quais a ciência vem sendo reivindicada, chacoalhada, disputada e imprevisivelmente rearticulada no campo da medicina no Brasil, especialmente no contexto de práticas e movimentos negacionistas durante a pandemia de Covid-19. A partir de uma aproximação etnográfica de algumas ações de grupos e instituições médicos críticos à vacinação contra a Covid-19 e defensores do uso de medicamentos considerados ineficazes para “tratamento precoce” da doença, procuro destacar como suas práticas rearticulam, transformam e disputam novos sentidos de ciência, ao invés de simplesmente repeli-la. Embora sejam publicamente nomeados pela mídia e por cientistas como negacionistas, suas práticas e discursos, bem como as repercussões e de suas ações, parecem não ser bem explicadas por alegações de vulnerabilidade à desinformação, falta de compreensão de aspectos técnicos da doença ou mesmo pelo diagnóstico supostamente autoexplicativo de um posicionamento francamente anti-ciência. Ao contrário, conforme demonstro neste ensaio, esses grupos recorrem a diferentes (read more...)